Crônica: A vida é fogo

Texto assinado por Miguel Tadeu Guimarães de Campos

0Shares

Já cansei de falar que meu pai foi professor, mas não posso deixar de dizer que antes dele ser professor ele passou por dezessete profissões.

Sim, ele contava cada uma delas, sempre relembrando que depois que sua mãe morreu, teve que sair de casa, pois não tinha como morar com seu padrasto, aquele que só dava metade do dinheiro para o sapato novo.

E, aqui, faço um comentário para registrar que não tenho nada contra os padrastos. Eu mesmo sou vovôdrasto e amo meus netinhodrastos. É coisa do coração.

Entenderam? Sem polêmica.

Voltando à cena anterior, meu pai, então, saiu para correr o mundo e, numa dessas andanças da vida, ele estava trabalhando como ajudante geral num circo. Ajudava a armar e desarmar o circo e outros serviços gerais.

Contava ele que num certo dia o dono do circo lhe disse: – Miguel, não dá mais pra ficar com você…vou ter de despedi-lo…

Era uma fase de crise de emprego, a pandemia da época.

Meu pai, então, ficou muito triste. Foi para a sua barraca e começou a pensar o que fazer na vida.

Foi aí que surgiu a ideia de falar com o dono do circo e perguntar se ele poderia ficar se fizesse algum número do espetáculo.

Claro que a resposta, à primeira vista, foi sim, mas o dono perguntou o que ele iria fazer.

Meu pai ainda não sabia o que fazer. Só voltou pra barraca e pensou, pensou, pensou…

E tomou uma decisão.

Foi aí que surgiu o maior engolidor de fogo que Auriflama já conheceu. No circo seu nome de guerra era “Chamorra”.

Ao longo de sua carreira de professor, várias vezes ele apresentou o número de “engolidor de fogo” nos circos que passavam por Auriflama, para ajudar a escola a arrecadar fundos.

E um detalhe. Tava tão no sangue, que um dos seus netos (meu filho 02) herdou esse dom.

Se quiser procure na internet: “treino de pirofagia – Paulo Maurício”.